Humanidades digitais e Ciência da Informação: fios conceituais para um tear interdisciplinar

28/11/2022 22:51

*Francisco Carlos Paletta

**Isa Maria Freire

 

 

Na sociedade em rede em que vivemos, a comunicação da informação por meio digital tem transformado tanto a vida particular de cada indivíduo quanto causado mudanças nos valores sociais e econômicos da sociedade. Essa transformação tem origem em três fenômenos: a convergência da base tecnológica, mediante digitalização dos canais de comunicação; a dinâmica da indústria, com a digitalização das máquinas produtivas; e o crescimento da Internet, que viabiliza o acesso à teia mundial da informação (PALETTA, 2018). Nesse sentido, a opção da sociedade pelo digital altera e questiona as condições de produção e divulgação do conhecimento.

 

A Ciência da Informação tem acompanhado a transformação do regime produtivo de bens para o regime produtivo de informação, desde que Vannevar Busch teorizou sobre o valor do conhecimento contido na informação até os atuais sistemas de recuperação da informação on line, disponíveis em milhares de bases de dados científicos e tecnológicos. Pierre Lévy, em meados dos anos 1990, já profetizava sobre a possibilidade de uma inteligência coletiva em grupos que se conectam em redes digitais no ciberespaço, avançando em direção a uma cibercultura. Na direção de uma humanidade digital, expressão que representa a complexidade do fenômeno informacional.

 

É nesse contexto que surge a abordagem das Humanidades Digitais, a partir de reflexões sobre a presença da tecnologia digital nas fontes tradicionais de informação, antes usufruídas apenas em seu formato físico. “Amparadas pela digitalização, a tendência irreversível de criação de fontes digitais colocou às Ciências Humanas o desafio de incorporar novos métodos à sua tradicional metodologia de pesquisa. Esse desafio implica uma nova forma de trabalhar” (PALETTA, 2018).

 

Com o tempo, as tecnologias da Web evoluíram para proporcionar aos desenvolvedores da Web a capacidade de criar gerações de experiências da Web úteis e imersivas. A Web atual é resultado dos esforços contínuos de uma comunidade aberta que ajuda a definir as tecnologias da Web, como HTML5, CSS3 e WebGL, e a garantir que elas sejam suportadas em todos os navegadores.

 

Paletta e Pelissaro (2015), esclarecem que a inserção dessas tecnologias digitais nos processos de comunicação da informação apresenta-se como inovação, embora vinculada à tradição e a missão de organizar e compartilhar informações das bibliotecas e dos repositórios de informação. “Avaliar a flexibilidade das estruturas computacionais, sua atratividade e dinâmica [onde] o usuário torna-se agente na construção de seu ambiente, demandando recursos [...] na criação de Serviços de Informação inovadores e que permitam [à] Biblioteca [...] ocupar papel relevante na produção de novos conhecimentos por [...] seus Usuários (PALETTA; PELISSARO, 2015).

 

Reconhecemos que a Era Digital está alterando os modelos de busca, acesso, apropriação e uso da informação e a produção de conhecimento. Nesse contexto, as Humanidades Digitais criam oportunidades para as bibliotecas, num processo em que o computador é ferramenta essencial na recuperação e organização da informação na Web de Dados. A biblioteca certamente terá de se transformar em um centro de competência digital: um processo desde a disponibilização de conteúdo, sua descrição e estruturação como objeto digital, até a conservação e preservação da informação, no tempo e no espaço.

 

Destarte, as Redes Sociais ocupam um papel relevante nesta transformação digital: com número de usuários ativos que já se aproxima de um terço da população mundial, redes sociais são utilizadas para os mais variados propósitos, como interação social, jogos, promoções de produtos, marketing digital, recuperação da informação.

 

Humanidades Digitais têm constituído, nos últimos anos, um campo de pesquisa que interessa à Educação, à Ciência da Informação e às Ciências Cognitivas. Nesse contexto, nosso desafio está, inicialmente, em apreender a utilização básica dos recursos tecnológicos (adquirir literacia digital) e a seguir se apropriar dos recursos digitais para gerar novos conhecimentos (literacia informacional). Por sua vez, a Ciência da Informação tem como objetivo a organização da informação, bem como seu acesso e disseminação por meio de diferentes tecnologias aplicadas às plataformas de comunicação da informação.

 

A Ciência da Informação está a serviço da informação. O entrelaçamento dos fios conceituais das Humanidades Digitais em um tear interdisciplinar representa um campo experimental de estudo para pesquisadores e especialistas dessas áreas. 

 

Referências

 

LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2000.

 

PALETTA, Francisco Carlos. Ciência da Informação e Humanidades Digitais – Uma reflexão. XIX ENANCIB – Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, Londrina, 22-26 out. 2018. Anais... Londrina: UEL, 2018. Disponível em: https://enancib.marilia.unesp.br/index.php/XIX_ENANCIB/xixenancib/paper/view/1531. Acesso em 21 nov. 2022.

 

PALETTA, F. C.; PELISSARO, B. Estudo de usuários e modelos de busca da informação. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 13, n. 1, p. 120-137, jan. 2015. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1584>. Acesso em: 23 jul. 2018.

 

 

 

*Francisco Carlos Paletta

Observatório do Mercado de Trabalho do Profissional da Informação na Era Digital - USP

https://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9446

 

**Isa Maria Freire

Laboratório de Tecnologias Intelectuais – LTi

https: lti.pro.br

 

 

 

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