Inclusão Digital para quem?
17/08/2016 13:23Maria Lívia Pachêco de Oliveira *
Na era dos smartphones, das redes sociais virtuais, dos jogos híbridos e da intensa conexão à internet, falar de inclusão digital até parece fora de moda. Ao nosso redor, tudo respira on-line: o real e o virtual coexistem em pequenos dispositivos móveis e, principalmente, em nosso modo de enxergar o outro. As tecnologias estão economicamente acessíveis, o que deixa a sensação de que todos já estão incluídos nesse mundo digital, independentemente da classe social. Afinal, quem não tem uma conta numa rede social ou não faz uso de aplicativos mensageiros – daqueles que recebem carinhosos apelidos, tipo “zapzap”?
Se ainda assim, apenas isso fosse inclusão digital, acreditem, muitas pessoas estariam de fora. As grandes metrópoles e suas periferias, permeadas de inovações e aparatos, parecem se esquecer das cidades interioranas, onde a rede de fibra ótica ainda não tem planos de passar ou, ainda, que as lan-houses – tão antiquadas nas grandes cidades – continuam sendo, para muitos, o único local de conexão com um mundo. Parecemos esquecer que as tecnologias são majoritariamente desenvolvidas para um usuário padrão, ou seja, pessoas com deficiência necessitam do desenvolvimento de tecnologias assistivas para que seu acesso seja igual aos demais. E isso não é fácil.
Há um grupo que não utiliza as tecnologias por questões culturais, como o sentimento de não pertencimento à geração conectada. É um estranhamento que se torna aversão, e que de forma não menos impactante, também é exclusão. Ainda é possível identificar um grupo muito mais expressivo que ainda requer inclusão digital. Esse grupo é o que mais impressiona, pois é o que menos demonstra necessidade. Tal grupo, parece relegado ao limbo, uma vez que sequer é reconhecido como excluído. Enfim, quem forma esse grupo? Todos aqueles que estão de posse das tecnologias da informação e comunicação, de uma rede de internet e de um grau de letramento mínimo para compreender comandos e instruções básicas. É um gigantesco grupo, dando voltas em torno de si quando os caminhos podem ser infinitos; presos em um labirinto, caminhando por três / quatro corredores; repetindo hashtags e servindo de audiência a um novo nicho de mercado. E só...
Desconhecem as fontes de compartilhamento do saber. E se acaso achem, pois, afinal de contas, tudo que se procura na internet é encontrado, certamente não saberão avaliar a credibilidade da fonte, ou não pensarão na hipótese dela ser ilegítima. Por estar “perdida” no ciberespaço, a informação disponível tem sido erroneamente apropriada. São muitos lispectors para pouca citação. São tantas inverdades em forma de lei, compartilhadas e discutidas na certeza de que há participação social e política efetiva, que sequer há espaço para a dúvida. Claro que estão todos incluídos!
Estamos on-line, somos hábeis, entendemos de todos os jargões linguísticos desse mundo digital. O que nos falta, a propósito? Falta o entendimento de que a inclusão digital pressupõe o uso da informação via tecnologias como forma de contribuir para a redução das desigualdades sociais. Isto é, a informação disponível em quantidades imensuráveis, de nada serve se nada consegue mudar.
Então, quer dizer que só somos um “incluído digital” se estivermos dispostos a contribuir com a sociedade, a ser altruísta e socialmente engajado? Não. Isso diz respeito às suas opções de escolha. É exatamente isso que a inclusão digital busca: oportunizar o acesso à informação por meio das tecnologias de modo que o indivíduo compreenda seu papel social e seu poder de ação, com vistas ao desenvolvimento das competências informacionais, aprendendo a aprender, fazendo seus próprios caminhos e reconhecendo inúmeras possibilidades de ação. A inclusão digital é o desafio de potencializar outras formas de inclusão social, como a educação, a cidadania, a geração de renda, o empreendedorismo, e assim por diante. Assim como na inclusão social, nem todos estão preocupados em quem está à margem, e tampouco gastam seu tempo pensando em como é possível contribuir. E é desse modo, que uma aparente inclusão digital é danosa, pois reforça as desigualdades ao passo que mantem usuários condicionados à uma participação coadjuvante, distantes do acesso e ao uso da informação que de fato possa redemocratizar as formas de poder.
* Maria Lívia é doutoranda em Ciência da Informação no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba e professora de Comunicação - Relações Públicas da UFPB. E-mail: liviapac@hotmail.com
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